sexta-feira, 15 de julho de 2016

De cabeça para baixo, capítulo 8

 - Hospital...- eu murmurei desligando o telefone com lágrimas nos olhos. O que estava acontecendo? Será que não poderia ter um momento de paz? Peguei o papel que estava guardado em meu bolso escrito “1-1. Quais ama” e o encarei por um instante.
  - O que houve?- perguntou Matt olhando para mim pelo retrovisor do carro.
  - Vá para o hospital imediatamente!- eu falei com raiva. Ele olhou para mim um tanto assustado, e virou repentinamente uma rua e começou a seguir caminho para o hospital. Eu olhei para a janela pensando em duas hipóteses: 1) Jorge revivera; 2) Jorge não é um zumbi para reviver e alguém o roubou, provavelmente Adelle. Tentei juntar o quebra-cabeça em minha mente mas sempre a imagem que saia no final era a de Adelle. Tentei manter a calma, tentando pensar em algo lógico, mas nada daquilo havia lógica! Um corpo, já morto, ser roubado do necrotério? Isso é coisa de psicopata!
  - Você pode nos contar o que houve?- Missie falou gentilmente.
  - Jorge...- eu falei olhando para ela- O corpo de Jorge não está no necrotério mais...
  Todos olharam para mim assustados, ignorei os olhares que recebia e voltei a olhar para a paisagem repleta de casas e lojas. Olhei para a loja que Jorge e eu fomos comprar os móveis para a casa. Um dor subiu e meu peito, e um sentimento de vingança espalhou-se pelo meu corpo. Iria tirar de Adelle o que ela tirara de mim, não importa o que aparecesse em meu caminho.
   Entramos no estacionamento do hospital e paramos. Sai do carro correndo e entrei no hospital desesperadamente. Olhei em volta e vi alguns policias conversando com uns médicos. Vivian também estava lá, porém não me viu. Corri em direção a eles.
  - Ei!- eu falei ao chegar- O que...como...quando...Jorge e...- eu falava sem conseguir criar uma frase coerente.
  - Ally Sppinet, certo?- uma médica falou olhando para mim.
  - S-sim...- eu falei ignorando o “Spinnet”.
  - Bem, iríamos preparar Jorge para o enterro, mas ao entrarmos...ele simplesmente havia sumido- ela falava rapidamente.
  - Já olharam as câmeras de segurança?- eu perguntei.
  - Já, mas aparece apenas um vulto preto, ainda estamos tentando identificar quem é- Vivian falou com a expressão séria.
  - Mas...mas então é isso? Vocês...vocês não têm seguranças aqui neste...hospital?- eu perguntei tentando controlar a raiva. Olhei para trás e vi Carl, Missie e Matt na porta de entrada olhando para mim- E eu não fiquei sabendo de nenhum enterro!
  - Ally, iríamos lhe falar- Vivian falou com culpa em sua expressão.
  - Okay, e vocês tem um enorme senso de responsabilidade! Deixa uma pessoa...-eu engasguei- morta sumir...?
  - Ally, iremos resolver isso!- um médico falou tentando me acalmar.
  - Primeiro: ele é brutalmente assassinado dentro da própria casa. Segundo: vocês desconfiam que Jorge fez algo com Adelle. Terceiro: ele simplesmente some do necrotério. Quarto: vocês já decidem o que fazer com ele sem eu saber de nada!- eu falei listando tudo o que estava acontecendo comigo nestes últimos dias.
  - Ally, acalme-se por favor!- um policial disse em tom de alerta- Iremos desvendar este caso, temos bons policias.
  - Há- eu ri ironicamente- Tão bons que Adelle já está presa e Jorge já está pronto para o enterro, não é mesmo?
  Os policias olharam para mim em tom e autoridade e alerta, como se eu fosse presa por falar com eles deste modo. Olhei para todos e comecei a caminhar em direção a porta.
  - Ei, você está bem?- uma enfermeira que estava atrás de um balcão falou ao ver minha testa.
  - Melhor impossível- eu forcei um sorriso e sai do hospital.
  - Ei, o que houve?- Carl perguntou andando ao meu lado.
  - Já não lhe contei?- eu falei com raiva- A única informação complementar é que não acharam o autor do crime.
  - Você tem alguma ideia de quem seja?- Matt perguntou já entrando no carro.
  - Sim- eu falei entrando no carro e fechando a porta.
  - E quem é?- ele perguntou esperando que todos entrassem para ligar o carro e sair do estacionamento.
  - Adelle- eu falei com raiva.
  - Mãe de Agnes?- Missie falou tom deboche na voz- Impossível, ela é uma mulher incrível.
  - Então por que as digitais dela estão na arma de crime?- eu falei olhando para ela com ódio no olhar. Ela ficou sem expressão e se calou, todos se calaram. Matt deduziu que eu fosse para o abrigo, então me deixou lá. Sequer acenei para eles, apenas entrei no abrigo tentando ser forte. Subi as escadas já tentando decorar onde meu quarto ficava, ficaria lá por mais um tempo.  Abri a porta do quarto e a tranquei. Peguei minha mochila e comecei a organizar meu material, fazia um bom tempo que não ia para a escola. Abri a pequena janela que ficava em cima da mesinha e coloquei meu pescoço para fora, vendo algumas pessoas na rua, continuando com suas vidas normais e talvez, felizes. Tirei a cabeça de fora da janela e sentei-me na cadeira, pensando em como acharia Adelle. Vingança. Tirar alguém dela? No que estava pensando? Estaria sendo pior do que ela, não é? Olhei para o calendário sem noção de que dia da semana eu estava, ou o dia que Jorge fora assassinado. Pelo menos sabia que fazia, mais ou menos, duas semanas desde que fora para a escola pela última vez.
  Peguei um roupão, um par de chinelos, shampoo, condicionador e sabonete e fui direto para o banheiro. Pelo o pouco que lembrava, havia um banheiro para cada dois andares do prédio no final do corredor. Teria de subir para o sexto andar. Fui para o início do corredor e subi as escadas, depois fui para o final do sexto andar, lembrando em como fazia uma confusão para achar as coisas neste local. Agora acho que estava um tanto acostumada. Entrei e acendi as luzes, caminhei até o fim do recinto e entrei na parte dos boxes. Coloquei minhas coisas em um armário e entrei em um box, liguei o chuveiro deixando a água escorrer pelo meu corpo. Lembrava de que toda vez que ia tomar banho chorava, por que agora não? Tentei “consultar” meu coração e, sim, havia vestígios de tristeza e saudades, mas parecia que estavam sendo ocupados por ódio e sede de vingança. Isso não era bom. Tentei pensar em coisas felizes, mas todas giravam em torno de uma pessoa: Jorge. E nisso resultava em sua morte, que resultava em Adelle. Depois de longos minutos tendo diversos pensamentos, terminei o banho e voltei ao meu quarto. Sentei-me em minha cama e escondi meu rosto em minhas mãos, como seria amanhã? Teria de, provavelmente, enfrentar olhares e “meus sentimentos” pelo resto do mês. Esse pensamento resultou em Adelle, novamente. Meu coração estava sendo consumido por ódio. Troquei-me e peguei um livro para passar o resto do dia lendo, pelo menos não ficaria nesse mundo horrível. Enquanto passava os olhos pelas linhas e meu cérebro montava todo o cenário, minhas pálpebras iam pesando, até meus olhos fecharem e eu dormir.
  Acordei com o famoso “despertador natural” e me troquei, peguei minha mochila e fui para o refeitório. Tomei o “delicioso” café da manhã e sai daquele lugar. Fui caminhando em direção do caminho da escola, que esperava não ser o errado, e ocupava meus pensamentos com o último livro que lera. Estava me aproximando da escola e vi alguns pais deixando seus filhos lá, adolescentes saindo do ônibus escolar, alguns chegando de uma caminhada e outro saindo de seus carros. Lembrei do meu carro e pensei no que havia acontecido com ele. Afastei esse pensamento e continuei com a minha caminhada, entrei na escola atraindo alguns olhares. Abaixei a cabeça e caminhei até o meu armário, como não sabia o dia de hoje, simplesmente enfiei todos os livros na mochila, a deixando pesada, e fui para a biblioteca para esperar o sinal. Muitas pessoas me pararam, me abraçaram ou falaram “meus sentimentos”, “sinto muito”, ou coisas do gênero. Não falei nada, apenas continuei indo em direção a biblioteca. Vi Tyler conversando com alguns meninos e lembrei-me de que ele andava com Agnes, que era supostamente a filha da assassina do meu pai. Teria de perguntar a ele sobre Agnes, e perguntar a Matt, Missie e Carl também. Não perguntara ontem pois o carro estava com a atmosfera pesada depois que acusara Adelle.
  - Ei! Tyler!- eu falei aproximando-me dele.
  - Ah, oi Ally. Como vai?- eu ele perguntou meio culpado- Então...meus pêsames sobre o que aconteceu e...sinto muito mesmo por aquela pegadinha. Sempre fazemos com os alunos novos e...
  - Tá, ta, já sei. Obrigada e eu te desculpo- eu falei apressada- Sei que é meio estranho mas...você sabe sobre Agnes? Ela tem vindo na escola ultimamente?
  - Agnes...? Ah, não, sinto muito. Não a vejo desde que você parou de vir para a escola. Ela sumiu, ninguém sabe onde ela está- Tyler falou coçando a cabeça.
  - Ah, você tem o número de telefone dela ou alguma coisa do tipo?- eu perguntei para ele esperançosa.
  - Sinto muito, eu tenho mas a maioria da escola já tentou ligar para ela- ele falou olhando para os amigos dele- Parece que o número não existe mais...
  - Ei...você é o que pulou de ano, não é?- eu perguntei balançando a cabeça e me lembrando do que ouvira antes. Ele deveria estar no nono, e agora estava no segundo.
  - Ah...sim, sou eu- ele falou dando um sorriso meio sem graça.
  - Você sabe mexer com coisas de computador?
  - De que tipo?
  - Hackear...?- eu perguntei. Droga, muito direta.
  - Ah...soa meio estranho mas...hã...eu sei sim- ele falou corando.
  - Ah, certo. Você irá me ajudar?- eu perguntei.
  - Com o que?
  - Hackear tudo o que possa levar contato a Agnes!


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