- Hospital...- eu
murmurei desligando o telefone com lágrimas nos olhos. O que estava
acontecendo? Será que não poderia ter um momento de paz? Peguei o papel que
estava guardado em meu bolso escrito “1-1. Quais ama” e o encarei por um
instante.
- O que houve?-
perguntou Matt olhando para mim pelo retrovisor do carro.
- Vá para o hospital
imediatamente!- eu falei com raiva. Ele olhou para mim um tanto assustado, e
virou repentinamente uma rua e começou a seguir caminho para o hospital. Eu
olhei para a janela pensando em duas hipóteses: 1) Jorge revivera; 2) Jorge não
é um zumbi para reviver e alguém o roubou, provavelmente Adelle. Tentei juntar
o quebra-cabeça em minha mente mas sempre a imagem que saia no final era a de
Adelle. Tentei manter a calma, tentando pensar em algo lógico, mas nada daquilo
havia lógica! Um corpo, já morto, ser roubado do necrotério? Isso é coisa de
psicopata!
- Você pode nos
contar o que houve?- Missie falou gentilmente.
- Jorge...- eu falei
olhando para ela- O corpo de Jorge não está no necrotério mais...
Todos olharam para
mim assustados, ignorei os olhares que recebia e voltei a olhar para a paisagem
repleta de casas e lojas. Olhei para a loja que Jorge e eu fomos comprar os
móveis para a casa. Um dor subiu e meu peito, e um sentimento de vingança espalhou-se
pelo meu corpo. Iria tirar de Adelle o que ela tirara de mim, não importa o que
aparecesse em meu caminho.
Entramos no
estacionamento do hospital e paramos. Sai do carro correndo e entrei no
hospital desesperadamente. Olhei em volta e vi alguns policias conversando com
uns médicos. Vivian também estava lá, porém não me viu. Corri em direção a
eles.
- Ei!- eu falei ao
chegar- O que...como...quando...Jorge e...- eu falava sem conseguir criar uma
frase coerente.
- Ally Sppinet,
certo?- uma médica falou olhando para mim.
- S-sim...- eu falei
ignorando o “Spinnet”.
- Bem, iríamos
preparar Jorge para o enterro, mas ao entrarmos...ele simplesmente havia
sumido- ela falava rapidamente.
- Já olharam as
câmeras de segurança?- eu perguntei.
- Já, mas aparece
apenas um vulto preto, ainda estamos tentando identificar quem é- Vivian falou
com a expressão séria.
- Mas...mas então é
isso? Vocês...vocês não têm seguranças aqui neste...hospital?- eu perguntei
tentando controlar a raiva. Olhei para trás e vi Carl, Missie e Matt na porta
de entrada olhando para mim- E eu não fiquei sabendo de nenhum enterro!
- Ally, iríamos lhe
falar- Vivian falou com culpa em sua expressão.
- Okay, e vocês tem
um enorme senso de responsabilidade! Deixa uma pessoa...-eu engasguei- morta
sumir...?
- Ally, iremos resolver isso!- um médico falou tentando me acalmar.
- Primeiro: ele é
brutalmente assassinado dentro da própria casa. Segundo: vocês desconfiam que
Jorge fez algo com Adelle. Terceiro: ele simplesmente some do necrotério.
Quarto: vocês já decidem o que fazer com ele sem eu saber de nada!- eu falei
listando tudo o que estava acontecendo comigo nestes últimos dias.
- Ally, acalme-se
por favor!- um policial disse em tom de alerta- Iremos desvendar este caso,
temos bons policias.
- Há- eu ri
ironicamente- Tão bons que Adelle já está presa e Jorge já está pronto para o
enterro, não é mesmo?
Os policias olharam para
mim em tom e autoridade e alerta, como se eu fosse presa por falar com eles
deste modo. Olhei para todos e comecei a caminhar em direção a porta.
- Ei, você está
bem?- uma enfermeira que estava atrás de um balcão falou ao ver minha testa.
- Melhor impossível-
eu forcei um sorriso e sai do hospital.
- Ei, o que houve?-
Carl perguntou andando ao meu lado.
- Já não lhe
contei?- eu falei com raiva- A única informação complementar é que não acharam
o autor do crime.
- Você tem alguma
ideia de quem seja?- Matt perguntou já entrando no carro.
- Sim- eu falei
entrando no carro e fechando a porta.
- E quem é?- ele
perguntou esperando que todos entrassem para ligar o carro e sair do
estacionamento.
- Adelle- eu falei
com raiva.
- Mãe de Agnes?-
Missie falou tom deboche na voz- Impossível, ela é uma mulher incrível.
- Então por que as
digitais dela estão na arma de crime?- eu falei olhando para ela com ódio no
olhar. Ela ficou sem expressão e se calou, todos se calaram. Matt deduziu que
eu fosse para o abrigo, então me deixou lá. Sequer acenei para eles, apenas
entrei no abrigo tentando ser forte. Subi as escadas já tentando decorar onde
meu quarto ficava, ficaria lá por mais um tempo. Abri a porta do quarto e a tranquei. Peguei
minha mochila e comecei a organizar meu material, fazia um bom tempo que não ia
para a escola. Abri a pequena janela que ficava em cima da mesinha e coloquei
meu pescoço para fora, vendo algumas pessoas na rua, continuando com suas vidas
normais e talvez, felizes. Tirei a cabeça de fora da janela e sentei-me na
cadeira, pensando em como acharia Adelle. Vingança. Tirar alguém dela? No que
estava pensando? Estaria sendo pior do que ela, não é? Olhei para o calendário
sem noção de que dia da semana eu estava, ou o dia que Jorge fora assassinado.
Pelo menos sabia que fazia, mais ou menos, duas semanas desde que fora para a
escola pela última vez.
Peguei um roupão, um
par de chinelos, shampoo, condicionador e sabonete e fui direto para o
banheiro. Pelo o pouco que lembrava, havia um banheiro para cada dois andares do prédio no
final do corredor. Teria de subir para o sexto andar. Fui para o início do
corredor e subi as escadas, depois fui para o final do sexto andar, lembrando
em como fazia uma confusão para achar as coisas neste local. Agora acho que
estava um tanto acostumada. Entrei e acendi as luzes, caminhei até o fim do
recinto e entrei na parte dos boxes. Coloquei minhas coisas em um armário e
entrei em um box, liguei o chuveiro deixando a água escorrer pelo meu corpo.
Lembrava de que toda vez que ia tomar banho chorava, por que agora não? Tentei
“consultar” meu coração e, sim, havia vestígios de tristeza e saudades, mas
parecia que estavam sendo ocupados por ódio e sede de vingança. Isso não era
bom. Tentei pensar em coisas felizes, mas todas giravam em torno de uma pessoa:
Jorge. E nisso resultava em sua morte, que resultava em Adelle. Depois de
longos minutos tendo diversos pensamentos, terminei o banho e voltei ao meu
quarto. Sentei-me em minha cama e escondi meu rosto em minhas mãos,
como seria amanhã? Teria de, provavelmente, enfrentar olhares e “meus
sentimentos” pelo resto do mês. Esse pensamento resultou em Adelle, novamente.
Meu coração estava sendo consumido por ódio. Troquei-me e peguei um livro para
passar o resto do dia lendo, pelo menos não ficaria nesse mundo horrível.
Enquanto passava os olhos pelas linhas e meu cérebro montava todo o cenário,
minhas pálpebras iam pesando, até meus olhos fecharem e eu dormir.
Acordei com o famoso
“despertador natural” e me troquei, peguei minha mochila e fui para o
refeitório. Tomei o “delicioso” café da manhã e sai daquele lugar. Fui
caminhando em direção do caminho da escola, que esperava não ser o errado, e
ocupava meus pensamentos com o último livro que lera. Estava me aproximando da
escola e vi alguns pais deixando seus filhos lá, adolescentes saindo do ônibus
escolar, alguns chegando de uma caminhada e outro saindo de seus carros.
Lembrei do meu carro e pensei no que havia acontecido com ele. Afastei esse
pensamento e continuei com a minha caminhada, entrei na escola atraindo alguns
olhares. Abaixei a cabeça e caminhei até o meu armário, como não sabia o dia de
hoje, simplesmente enfiei todos os livros na mochila, a deixando pesada, e fui
para a biblioteca para esperar o sinal. Muitas pessoas me pararam, me abraçaram
ou falaram “meus sentimentos”, “sinto muito”, ou coisas do gênero. Não falei
nada, apenas continuei indo em direção a biblioteca. Vi Tyler conversando com
alguns meninos e lembrei-me de que ele andava com Agnes, que era supostamente a
filha da assassina do meu pai. Teria de perguntar a ele sobre Agnes, e
perguntar a Matt, Missie e Carl também. Não perguntara ontem pois o carro
estava com a atmosfera pesada depois que acusara Adelle.
- Ei! Tyler!- eu
falei aproximando-me dele.
- Ah, oi Ally. Como
vai?- eu ele perguntou meio culpado- Então...meus pêsames sobre o que aconteceu
e...sinto muito mesmo por aquela pegadinha. Sempre fazemos com os alunos novos
e...
- Tá, ta, já sei.
Obrigada e eu te desculpo- eu falei apressada- Sei que é meio estranho
mas...você sabe sobre Agnes? Ela tem vindo na escola ultimamente?
- Agnes...? Ah, não,
sinto muito. Não a vejo desde que você parou de vir para a escola. Ela sumiu,
ninguém sabe onde ela está- Tyler falou coçando a cabeça.
- Ah, você tem o
número de telefone dela ou alguma coisa do tipo?- eu perguntei para ele
esperançosa.
- Sinto muito, eu
tenho mas a maioria da escola já tentou ligar para ela- ele falou olhando para
os amigos dele- Parece que o número não existe mais...
- Ei...você é o que
pulou de ano, não é?- eu perguntei balançando a cabeça e me lembrando do que
ouvira antes. Ele deveria estar no nono, e agora estava no segundo.
- Ah...sim, sou eu-
ele falou dando um sorriso meio sem graça.
- Você sabe mexer
com coisas de computador?
- De que tipo?
- Hackear...?- eu
perguntei. Droga, muito direta.
- Ah...soa meio
estranho mas...hã...eu sei sim- ele falou corando.
- Ah, certo. Você
irá me ajudar?- eu perguntei.
- Com o que?
- Hackear tudo o que
possa levar contato a Agnes!
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