terça-feira, 21 de junho de 2016

De cabeça para baixo, capítulo 7

- Ei! Ei!- uma secretária que não conhecia tentou me parar saindo do balcão e colocando-se em minha frente- Aonde pensa que está indo?
  - Deveria lhe falar?- eu perguntei tentando sair de sua frente.
  - Nada disso garota, você não pode sair à hora que quiser- ela falou olhado de cima abaixo para mim com uma cara de desgosto- Aliás, me falaram que você não pode sair do prédio.
  - Mas um policial me ligou avisando que as digitais ficaram prontas!- eu elevei a voz.
  - Há provas?- ela falou, no mesmo instante, o telefone tocou. Ela me olhou desconfiada e falou para que ficasse paradinha ali enquanto ela atendia ao telefone. Bufei e comecei a andar em círculos- Ally Spinnet, certo?- ela perguntou desligando o telefone.
  - Só Ally- eu corrigi.
  - Está liberada- ela falou desanimada.
 Sai correndo a xingando mentalmente. Enquanto corria, passei em frente a uma pizzaria, adivinha quem estava lá? Matt, Carl, Tyler e Missie. Eles olharam para mim enquanto corria e Matt levantou-se a tempo de pegar meu braço e me parar.
  - Ei! Onde está indo?- ele perguntou olhando a roupa que eu estava vestindo e meu rosto que estava pálido, com olheiras e com aparência de alguém que não come há um tempo. Sem falar no ninho do meu cabelo.
  - Não é do seu interesse!- eu gritei- Me larga agora!
  - Ei...o que foi?- ele perguntou com uma expressão preocupada.
  - Me larga!- eu gritei mais alto, fazendo com que algumas pessoas olhassem para nós dois.
  - Ei, a largue, cara- um homem alto e musculoso falou levantando-se da mesa em que estava sentado. Matt olhou para ele meio assustado e me largou, dei um olhar mortífero a ele e um amigável para o homem alto e musculoso. Ele sentou-se de novo e eu me pus a correr o mais rápido que podia.
  Depois de três quarteirões, cheguei à delegacia. Entrei e parei de correr, olhei em volta e comecei a puxar enormes quantidades de ar. Apoiei-me em uma parede muito cansada, devido à corrida e o fato de não ter comido nada, nem ontem e hoje.
  - Ally!- Vivian me avistou quando saiu de uma porta do outro lado da recepção- O que houve?
  - Onde...estão...os resul...tados das....digitais?- eu perguntei pausando frequentemente para “sugar” mais ar.
  - Estão prontos mas...- ela começou a falar preocupada- Queria saber o que houve com você. Está com um semblante tão...
  - Despencado e descuidado?- eu completei- É, eu sei disso. Mas, sabe né...acabei de perder a pessoa mais importante de minha vida.
  - Estou preocupada e...
  - Você não é minha mãe, ou da minha família. O que está acontecendo comigo não é de sua conta. Agora, os resultados das digitais!- eu falei em tom autoritário recompondo-me.
  - Acompanhe-me, por favor- ela falou olhando para mim com um olhar culpado e triste. Ela abriu a porta por qual saiu e entramos na sala do xerife.
  - Sente-se nesta cadeira por favor, Ally- ele falou olhando para minhas pantufas.
  - Xerife- eu o cumprimentei enquanto me sentava.
  - Então, como já sabe, o que houve há alguns dias atrás foi um crime e...
  - Olha, eu sei o que houve. Só me fala o resultado. Por favor. Não quero saber de mais nada!
  - Bem, na verdade, você precisaria assinar isto e...- ele falou com um pouco de raiva em sua voz, provavelmente pelo modo como falei com ele.
  - Okay- eu peguei uma caneta em um porta-lápis e o papel em que ele estava segurando- Isso?
  - Sim, mas...
  - Pronto- eu falei assinando e entregando para ele- Resultados. Por favor- eu falei com a voz já trêmula.
  - Bem, fizemos os testes das digitais e, realmente Ally, é Adelle a autora do crime- ele falou com um tom de voz triste- Ela está sendo procurada e estamos ainda investigando o caso, precisamos ter certeza absoluta de que Jorge não estava tentando nada contra ela, pois se estava, ela poderá continuar solta. Não consideramos um crime a autodefesa.
  - Está dizendo que meu...que Jorge  tentou algo com ela?- eu perguntei em tom sarcástico- Jorge estava com um sorriso enorme do rosto ao me apresentá-la, para então aquela vaca o matar! Ela é uma assassina- eu falei me levantando- Se vocês não a pegarem, eu mesmo faço isso. Se quiser anotar isto, pode anotar, xerife.
  Antes que ele ou Vivian, que estava ao lado da porta, dissessem alguma coisa, sai correndo da delegacia, atraindo a atenção de alguns policias. Então, quando estava quase saindo, um policia agarrou meus braços e os algemou.
  - Ei! Eu não fiz nada!- eu falei indignada com a situação.
  - Então por que correr?- ele perguntou com uma voz fria. Ele estava me encaminhando para a sala do xerife, então Vivian apareceu no caminho e disse que ele poderia me soltar. Olhei com raiva para os dois e voltei a fazer o meu caminho. Sai da delegacia mordendo a unha, pensando em como conseguiria achar Adelle. Parei ao lembrar o abrigo em que estava. Dei meia volta e voltei à delegacia. Vivian estava conversando com a secretária ou sei lá quem era, e parou ao me ver entrando novamente na delegacia.
  - Algum problema, Ally?- ela falou vindo ao meu encontro.
  - Já que as digitais são da Adelle, quero voltar para minha casa. Imediatamente- eu falei meio envergonhada.
  - Eu vou tentar convencer o xerife, quem sabe até depois de amanhã você volte- ela falou- Mas é melhor se acostumar vindo aqui, ainda temos de decidir aonde você vai morar. E, aliás, não fale daquele jeito com o xerife, você pode ser presa por desacato à autoridade.
  - Eu não ligo!- eu falei com a voz rouca- E, aliás, não quero perder tempo! Quero voltar já para minha casa! Agora ela é minha e eu vou para lá hoje!
  - Ally, as coisas não são do jeito que você pensa que é- ela continuou- Tem um longo processo e...
  - Eu não ligo!- eu disse- Eu quero morar na minha casa!
  - Okay, okay- ela falou olhando em volta como se tivesse alguma preocupação- Eu vou conversar com ele. Mas fique calma, vá para seu dormitório no abrigo e aguarde minha ligação.
  - Feito- eu falei como se estivéssemos em um acordo. Dei um leve sorriso para ela e sai da delegacia, decidi que ela é amiga. Ela é sempre meiga comigo e faz o que um policial qualquer não faria por mim. Depois de andar por um quarteirão, vi a Ferrari vermelha vindo em minha direção, parei e tentei enxergar quem estava no volante. Matt.
  Dei meia volta decidida a pegar outro caminho, mas o carro me alcançou e parou ao meu lado. Matt desceu o vidro do carro e olhou para mim.
  - Ally, então voc...- ele começou a falar, mas eu parei de prestar atenção ao sentir algo atingindo minha testa com força. Uma dor se espalhou em minha cabeça e toquei onde alguma coisa batera em minha testa. Levei minha mão em frente aos meus olhos e vi sangue.
  - Mas o que?- eu murmurei, então olhei para baixo, ao mesmo tempo em que Matt abria a porta e vinha ver o que houve, junto dele: Missie e Carl.
  - Ally, você está bem?- Missie perguntou preocupada.
  - Alguma coisa me acertou- eu falei me agachando e pegando uma pedra. Ela tinha sangue em uma parte e na outra havia uma papel preso por uma fita. Sentei-me no chão rodeada pelo grupo que acabara de chegar, e desamarrei a linha jogando-a no chão e pegando o papel. Ele estava dobrado, então o desdobrei lendo o que estava escrito: 1-1. Quais ama.
  - O que é Ally?- Carl perguntou como se fôssemos amigos.
  - Não é do interesse de vocês- eu falei levantando-me e passando a manga do moletom em cima do ferimento.
  - Ei, Ally! Devemos ir à delegacia!- Missie falou preocupada- Isso poderia ter te matado.
  - Mas não matou- eu falei saindo de perto deles e prosseguindo o meu caminho.
  - Quer uma carona?- Matt perguntou meio sem jeito.
  - Wow!- eu exclamei sem me virar para ele- Semana passada, recebo um balde de tinta rosa em minha cabeça, hoje, uma carona!- dei uma longa gargalhada.
  - Ally- Matt falou me alcançando- Nós fazemos isso com todos que entram na escola, é tipo um ritual. Nós mesmos sofremos por isso, e depois nos enturmamos.
  - Que ritual mais infantil- eu falei parando e me virando para ele- O que você quer de mim?
  - Ally, o que você passou foi horrível e queríamos nos desculpar- ele falou com sinceridade- E queríamos dar...dar nossos sentimentos pelo o que houve.
  - Ele era a coisa mais importante que eu tinha- eu murmurei com os olhos lacrimejando.
  - Você não acha que precisa de amigos para reconfortar esta dor?- ele perguntou apontando para Missie e Carl. Nunca tivera amigos, então não sabia como era tê-los. Olhei um pouquinho para cada um e...continuei o caminho.
  - Ei! Ally...- Missie me chamou.
  - Okay, eu vou aceitar a carona- eu falei me virando e indo em direção ao carro- Só porque nunca andei de Ferrari.
  - É um progresso- Matt falou dando um sorriso amigável. Entrei no banco e trás junto com Missie e senti mais sangue escorrendo. Passei a manga do moletom sobre a ferida novamente.
  - É melhor a levarmos ao hospital- Missie falou olhando preocupada para meu ferimento.
  - Há uma enfermaria no abrigo em que estou, então não há problema algum- eu falei olhando a paisagem enquanto o carro percorria seu caminho. Um telefone começou a tocar, demorei um pouco para perceber que era meu. Após todos negarem que o toque eram deles, eu peguei o meu telefone em meu bolso e atendi.
  - Alô?- eu perguntei com a voz duvidosa.
  - Pobre Ally, você ainda tem muito para sofrer, minha jovem querida- uma voz melosa e fria saiu do telefone.
   - Quem é?- Missie perguntou. Coloquei no viva voz encolhendo os ombros.
  - Estou lhe observando. Cada passo. Cada palavra. Tudo. Um dia iremos nos reencontrar, minha flor, e você irá dar o que me pertence! Aliás, entrar no necrotério é nojento!- a dona da voz desligou. Todos me olharam desconfiados, assim como olhei para o telefone desconfiada.
  - Adelle- eu murmurei enquanto as engrenagens de meu cérebro funcionavam. O telefone tocou novamente.
  - Que história é esta?- Carl perguntou virando sua cabeça e olhando para mim do banco da frente. Balancei minha cabeça em forma negativa e atendi ao telefone.
  - Ally? Ally?- ouvi a voz de Vivian- Ally, onde você está?
  - Estou indo para o meu abrigo- eu falei ainda meio assustada devida aquela ligação.
  - Ally, quero que vá ao hospital imediatamente- ela falava com a voz agitada.
  - Por que, o que houve?- eu perguntei esperançosa de que Jorge tivesse “revivido”.
  - O corpo de Jorge- ela falou, não entendi- Ele foi roubado, não estão achando o corpo de Jorge no necrotério.


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