- Ei! Ei!- uma secretária que não conhecia tentou me parar
saindo do balcão e colocando-se em minha frente- Aonde pensa que está indo?
- Deveria lhe
falar?- eu perguntei tentando sair de sua frente.
- Nada disso garota,
você não pode sair à hora que quiser- ela falou olhado de cima abaixo para mim
com uma cara de desgosto- Aliás, me falaram que você não pode sair do
prédio.
- Mas um policial me
ligou avisando que as digitais ficaram prontas!- eu elevei a voz.
- Há provas?- ela
falou, no mesmo instante, o telefone tocou. Ela me olhou desconfiada e falou
para que ficasse paradinha ali enquanto ela atendia ao telefone. Bufei e
comecei a andar em círculos- Ally Spinnet, certo?- ela perguntou desligando o
telefone.
- Só Ally- eu
corrigi.
- Está liberada- ela
falou desanimada.
Sai correndo a
xingando mentalmente. Enquanto corria, passei em frente a uma pizzaria,
adivinha quem estava lá? Matt, Carl, Tyler e Missie. Eles olharam para mim
enquanto corria e Matt levantou-se a tempo de pegar meu braço e me parar.
- Ei! Onde está
indo?- ele perguntou olhando a roupa que eu estava vestindo e meu rosto que
estava pálido, com olheiras e com aparência de alguém que não come há um tempo.
Sem falar no ninho do meu cabelo.
- Não é do seu
interesse!- eu gritei- Me larga agora!
- Ei...o que foi?-
ele perguntou com uma expressão preocupada.
- Me larga!- eu
gritei mais alto, fazendo com que algumas pessoas olhassem para nós dois.
- Ei, a largue,
cara- um homem alto e musculoso falou levantando-se da mesa em que estava
sentado. Matt olhou para ele meio assustado e me largou, dei um olhar mortífero
a ele e um amigável para o homem alto e musculoso. Ele sentou-se de novo e eu
me pus a correr o mais rápido que podia.
Depois de três
quarteirões, cheguei à delegacia. Entrei e parei de correr, olhei em volta e
comecei a puxar enormes quantidades de ar. Apoiei-me em uma parede muito
cansada, devido à corrida e o fato de não ter comido nada, nem ontem e hoje.
- Ally!- Vivian me
avistou quando saiu de uma porta do outro lado da recepção- O que houve?
- Onde...estão...os
resul...tados das....digitais?- eu perguntei pausando frequentemente para
“sugar” mais ar.
- Estão prontos mas...-
ela começou a falar preocupada- Queria saber o que houve com você. Está com um
semblante tão...
- Despencado e
descuidado?- eu completei- É, eu sei disso. Mas, sabe né...acabei de perder a
pessoa mais importante de minha vida.
- Estou preocupada
e...
- Você não é minha
mãe, ou da minha família. O que está acontecendo comigo não é de sua conta.
Agora, os resultados das digitais!- eu falei em tom autoritário recompondo-me.
- Acompanhe-me, por
favor- ela falou olhando para mim com um olhar culpado e triste. Ela abriu a
porta por qual saiu e entramos na sala do xerife.
- Sente-se nesta
cadeira por favor, Ally- ele falou olhando para minhas pantufas.
- Xerife- eu o
cumprimentei enquanto me sentava.
- Então, como já
sabe, o que houve há alguns dias atrás foi um crime e...
- Olha, eu sei o que
houve. Só me fala o resultado. Por favor. Não quero saber de mais nada!
- Bem, na verdade,
você precisaria assinar isto e...- ele falou com um pouco de raiva em sua voz,
provavelmente pelo modo como falei com ele.
- Okay- eu peguei
uma caneta em um porta-lápis e o papel em que ele estava segurando- Isso?
- Sim, mas...
- Pronto- eu falei
assinando e entregando para ele- Resultados. Por favor- eu falei com a voz já
trêmula.
- Bem, fizemos os
testes das digitais e, realmente Ally, é Adelle a autora do crime- ele falou
com um tom de voz triste- Ela está sendo procurada e estamos ainda investigando
o caso, precisamos ter certeza absoluta de que Jorge não estava tentando nada
contra ela, pois se estava, ela poderá continuar solta. Não consideramos um crime
a autodefesa.
- Está dizendo que
meu...que Jorge tentou algo com ela?- eu
perguntei em tom sarcástico- Jorge estava com um sorriso enorme do rosto ao me
apresentá-la, para então aquela vaca o matar! Ela é uma assassina- eu falei me
levantando- Se vocês não a pegarem, eu mesmo faço isso. Se quiser anotar isto,
pode anotar, xerife.
Antes que ele ou
Vivian, que estava ao lado da porta, dissessem alguma coisa, sai correndo da
delegacia, atraindo a atenção de alguns policias. Então, quando estava quase
saindo, um policia agarrou meus braços e os algemou.
- Ei! Eu não fiz
nada!- eu falei indignada com a situação.
- Então por que
correr?- ele perguntou com uma voz fria. Ele estava me encaminhando para a sala
do xerife, então Vivian apareceu no caminho e disse que ele poderia me soltar.
Olhei com raiva para os dois e voltei a fazer o meu caminho. Sai da delegacia
mordendo a unha, pensando em como conseguiria achar Adelle. Parei ao lembrar o
abrigo em que estava. Dei meia volta e voltei à delegacia. Vivian estava
conversando com a secretária ou sei lá quem era, e parou ao me ver entrando
novamente na delegacia.
- Algum problema,
Ally?- ela falou vindo ao meu encontro.
- Já que as digitais
são da Adelle, quero voltar para minha casa. Imediatamente- eu falei meio
envergonhada.
- Eu vou tentar
convencer o xerife, quem sabe até depois de amanhã você volte- ela falou- Mas é
melhor se acostumar vindo aqui, ainda temos de decidir aonde você vai morar. E,
aliás, não fale daquele jeito com o xerife, você pode ser presa por desacato à
autoridade.
- Eu não ligo!- eu
falei com a voz rouca- E, aliás, não quero perder tempo! Quero voltar já para
minha casa! Agora ela é minha e eu vou para lá hoje!
- Ally, as coisas
não são do jeito que você pensa que é- ela continuou- Tem um longo processo
e...
- Eu não ligo!- eu
disse- Eu quero morar na minha casa!
- Okay, okay- ela
falou olhando em volta como se tivesse alguma preocupação- Eu vou conversar com
ele. Mas fique calma, vá para seu dormitório no abrigo e aguarde minha ligação.
- Feito- eu falei
como se estivéssemos em um acordo. Dei um leve sorriso para ela e sai da
delegacia, decidi que ela é amiga. Ela é sempre meiga comigo e faz o que um
policial qualquer não faria por mim. Depois de andar por um quarteirão, vi a
Ferrari vermelha vindo em minha direção, parei e tentei enxergar quem estava no
volante. Matt.
Dei meia volta
decidida a pegar outro caminho, mas o carro me alcançou e parou ao meu lado.
Matt desceu o vidro do carro e olhou para mim.
- Ally, então
voc...- ele começou a falar, mas eu parei de prestar atenção ao sentir algo
atingindo minha testa com força. Uma dor se espalhou em minha cabeça e toquei
onde alguma coisa batera em minha testa. Levei minha mão em frente aos meus
olhos e vi sangue.
- Mas o que?- eu
murmurei, então olhei para baixo, ao mesmo tempo em que Matt abria a porta e
vinha ver o que houve, junto dele: Missie e Carl.
- Ally, você está
bem?- Missie perguntou preocupada.
- Alguma coisa me
acertou- eu falei me agachando e pegando uma pedra. Ela tinha sangue em uma
parte e na outra havia uma papel preso por uma fita. Sentei-me no chão rodeada
pelo grupo que acabara de chegar, e desamarrei a linha jogando-a no chão e pegando
o papel. Ele estava dobrado, então o desdobrei lendo o que estava escrito: 1-1.
Quais ama.
- O que é Ally?-
Carl perguntou como se fôssemos amigos.
- Não é do interesse
de vocês- eu falei levantando-me e passando a manga do moletom em cima do ferimento.
- Ei, Ally! Devemos
ir à delegacia!- Missie falou preocupada- Isso poderia ter te matado.
- Mas não matou- eu
falei saindo de perto deles e prosseguindo o meu caminho.
- Quer uma carona?-
Matt perguntou meio sem jeito.
- Wow!- eu exclamei
sem me virar para ele- Semana passada, recebo um balde de tinta rosa em minha
cabeça, hoje, uma carona!- dei uma longa gargalhada.
- Ally- Matt falou
me alcançando- Nós fazemos isso com todos que entram na escola, é tipo um
ritual. Nós mesmos sofremos por isso, e depois nos enturmamos.
- Que ritual mais
infantil- eu falei parando e me virando para ele- O que você quer de mim?
- Ally, o que você
passou foi horrível e queríamos nos desculpar- ele falou com sinceridade- E
queríamos dar...dar nossos sentimentos pelo o que houve.
- Ele era a coisa
mais importante que eu tinha- eu murmurei com os olhos lacrimejando.
- Você não acha que
precisa de amigos para reconfortar esta dor?- ele perguntou apontando para
Missie e Carl. Nunca tivera amigos, então não sabia como era tê-los. Olhei um
pouquinho para cada um e...continuei o caminho.
- Ei! Ally...-
Missie me chamou.
- Okay, eu vou
aceitar a carona- eu falei me virando e indo em direção ao carro- Só porque
nunca andei de Ferrari.
- É um progresso-
Matt falou dando um sorriso amigável. Entrei no banco e trás junto com Missie e
senti mais sangue escorrendo. Passei a manga do moletom sobre a ferida
novamente.
- É melhor a
levarmos ao hospital- Missie falou olhando preocupada para meu ferimento.
- Há uma enfermaria
no abrigo em que estou, então não há problema algum- eu falei olhando a
paisagem enquanto o carro percorria seu caminho. Um telefone começou a tocar,
demorei um pouco para perceber que era meu. Após todos negarem que o toque eram
deles, eu peguei o meu telefone em meu bolso e atendi.
- Alô?- eu perguntei
com a voz duvidosa.
- Pobre Ally, você
ainda tem muito para sofrer, minha jovem querida- uma voz melosa e fria saiu do
telefone.
- Quem é?- Missie
perguntou. Coloquei no viva voz encolhendo os ombros.
- Estou lhe
observando. Cada passo. Cada palavra. Tudo. Um dia iremos nos reencontrar,
minha flor, e você irá dar o que me pertence! Aliás, entrar no necrotério é
nojento!- a dona da voz desligou. Todos me olharam desconfiados, assim como
olhei para o telefone desconfiada.
- Adelle- eu
murmurei enquanto as engrenagens de meu cérebro funcionavam. O telefone tocou
novamente.
- Que história é
esta?- Carl perguntou virando sua cabeça e olhando para mim do banco da frente.
Balancei minha cabeça em forma negativa e atendi ao telefone.
- Ally? Ally?- ouvi
a voz de Vivian- Ally, onde você está?
- Estou indo para o
meu abrigo- eu falei ainda meio assustada devida aquela ligação.
- Ally, quero que vá
ao hospital imediatamente- ela falava com a voz agitada.
- Por que, o que
houve?- eu perguntei esperançosa de que Jorge tivesse “revivido”.
- O corpo de Jorge-
ela falou, não entendi- Ele foi roubado, não estão achando o corpo de Jorge no
necrotério.
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