Não consegui dizer mais nada. Ele acabara de conhecer a moça. Como já queria se casar?! Isso não é um conto de fadas.
- Seremos uma linda família!- ele diz com um sorriso radiante no rosto, como alguém que realmente está feliz.
- Desculpa, mas agora tenho de usar seu escritória urgentemente- Adelle disse-, mas tarde nós conversamos querida!- ela apertou minha bochecha e subiu as escadas em direção ao escritório. Odiei aquela atitude.
- Ally, querida, você terá de arranjar um espaço para dividir quarto com Agnes, só por um tempo até reformarmos a casa ou até comprarmos uma casa nova- Jorge diz com uma voz feliz. Realmente, ele acredita em tudo isso?
Subi e logo fui para meu quarto, bati a porta com força e deitei. Fiquei olhando para o teto desejando que ele ganhasse uma boca e me comesse, só para não ter de conviver com essas duas. Se Agnes é uma completa vaca, imagine a mãe. Fiquei pensando em inúmeras possibilidades de fazer com que Jorge perceba que amor não é tão simples assim e que isso é uma baita mentira. Tantas possibilidades, tantas. Mas nenhuma faz sentido. Nada faz sentido. Principalmente quando você está dormindo. Uma imagem do casamento do dois passou pela minha cabeça, e depois um unicórnio esmagou Adelle. E Agnes virou uma cobra. Estou sonhando. Essa cobra me picou, bem no peito, onde estaria o meu coração, e com isso acordei assustada e suando.
Um policial estava me cutucando a chamando meu nome. Não havia policiais em casa.
- Quem é você?- eu perguntei me sentando na cama, e instantaneamente, senti um aperto no coração. Minha respiração estava rápida, como se alguém tivesse me enforcado e depois me soltado. Exatamente como aconteceu entre Agnes e eu- O que aconteceu?- eu perguntei ao ver que o policial não me respondeu, só me olhou com uma olhar triste, muito triste.
- O que está acontecendo?!- dessa vez eu gritei.
- Venha- ele disse me guiando pela casa, como se eu nem morasse aqui.
Ao chegar no andar debaixo, haviam vários policias, sangue espirrado nas paredes ao lado da porta e alguns paramédicos entrando e saindo de casa. Meus olhos começaram a lacrimejar.
Lembra quando disse que hoje fora um dia completamente normal? Mentira! Jorge estava deitado em uma maca com uma um furo profundo no meio do peito. Comecei a chorar desesperadamente. Quando me perceberam ao lado da maca e chorando 10 vezes pior do que um criança quando alguém rouba o pirulito dela, me tiraram de lá a força, pois não queria sair, precisava ficar ao lado de Jorge. Uma dor enorme penetrou em meu coração. Algo devastador, como se alguém tivesse arrancado o meu coração. Os policias me sentaram no sofá, me deixaram lá na esperança de eu me acalmar. Mas não conseguia. Uma policial chegou ao meu lado e me ofereceu um lencinho, aceitei, mas o choro não cessava.
- Recebemos uma denuncia anônima de uma assassinato nesta rua. Ao chegarmos não havia ninguém. Entramos aqui e...- ela não terminou a frase, ao invés disso, deu continuidade a outra- Chamamos a ambulância e enquanto alguns paramédicos analisavam seus ferimentos, rondamos a casa. E um policial achou apenas você aqui. Sabe se alguma coisa aconteceu?- sua voz era calma, não parecia aquele tipo de policial fria, mas aquela mais calma.
- Não- eu disse em meio as lágrimas- Eu estava dormindo. Acordei com um policial no meu quarto e...- me lembrei de Adelle e Agnes, o choro diminuiu um pouco, pois agora a raiva estava tomando conta de mim- Mas antes disso haviam duas mulheres aqui. Agnes e Adelle, mãe e filha.
- Okay, obrigada pela informação viu? Nós agora vamos esperar você se acalmar e depois a levaremos ao interrogatório. Mas antes disso, você é filha?
- Adotada.
- Parentes com quem eu possa contatar?
- Não- eu disse, o choro aumentou mais, pois me lembrei que nunca tivera mão, tios, avós. Só o Jorge, e agora ele estava...Morto.
Depois de meia hora, me conduziram a um carro de policia e ao caminhar, vi Matt e seus pais do lado de fora da casa conversando com um policial. Matt deu um leve sorriso para mim, consolador e não debochador, mas não retribui. Será que eles fizeram a denúncia anônima?
Depois de 15 minutos chegamos a delegacia, havia bastante movimento lá. Particularmente gostaria, quero dizer, precisava de estar no hospital com Jorge, mesmo sabendo que ele não está vivo mas...sabe quando você precisa daquela pessoa? Quando ela faz parte de você e você a perde? Dói muito. Falo isso por experiência, quero dizer, acabei de perder meu "pai", o cara que cuidou de mim, me ajudou nas lições de casa, me salvou de um lugar horrível! Como posso superar isso? Depois de um tempo tentando me acalmar, finalmente parei de chorar. Mas sentia que a sensação ia voltar logo. Então perguntei em voz alta que horas seria o interrogatório.
- Agora mesmo- a policial se sentou ao meu lado e deu um sorriso consolador- Vamos.
- Você que vai fazer o interrogatório?- eu perguntei com voz rouca.
- Não, outro policial. Escute: relaxe e só conte verdades, fale como foi seu dia, o que você fez. Até o que comeu ou com quem ficou- ela disse abrindo a porta de uma sala totalmente cinza, com duas cadeiras e uma mesa exposta ao meio delas- A propósito, meu nome é Vivian.
Entrei na sala e no mesmo instante, um policial entrou com uma pasta, provavelmente informações. Ele tinha uma expressão ameaçadora.
- Sente-se- ele disse com uma voz fria; me sentei. Ele abriu a pasta em alguma página qualquer e ao ver alguma informação, uma expressão de surpresa passou pelo seu rosto. Mas não disse nada.
- Algum problema?- eu perguntei, tentando manter a voz firme.
- Spinnet é o sobrenome de Jorge certo?- ele perguntou fechando a pasta e a colocando sobre a mesa.
- Sim. Uma ano após ele me adotar, nos fomos ao cartório e ele me deu o sobrenome dele. Minha mãe me abandonou e sequer me deu um nome- eu disse me lembrando do que me disseram por lá. Colocaram esse nome em mim porque, de acordo com elas, era um nome bonito para se dar a uma menina bonita.
- O que você fez hoje?- ele perguntou.
- O de sempre: fui para escola, voltei para casa, encontrei Jorge que era para chegar um dia depois, na Sexta, e com ele estavam: Agnes e Adelle, filha e mãe. Ele disse que iria se casar com ela, que se conheceram em Nova Iorque quando ele viajou à trabalho. Ah! Antes de ir dormir, Adelle disse que iria fazer alguma coisa no escritório dele e depois...como já disse, fui dormir.
- Bem, não posso acreditar em meras palavras de uma adolescente qualquer. Preciso fazer mais perguntas e iremos colher digitais da arma do crime- ele disse. Em seguida, mais e mais perguntas sobre o que fiz hoje, minha relação com Jorge, sobre a minha vida, quando nos mudamos para cá e etc. Depois de uma hora e meia apenas respondendo perguntas. Fui liberada para ir até o hospital. Vivian foi comigo.
Ao chegar, Vivian foi falar direto com a recepcionista e ela nos encaminhou a um médico que cuidara dos ferimentos de Jorge. Depois de Vivian e o médico conversarem sobre o crime, provavelmente, até porque não pude ouvir, tive de ficar sentada esperando notícias. Depois de um tempo curto esperando e pensando em memórias engraçadas e felizes para não ficar chorando, Vivian se sentou ao meu lado.
- E aí?- eu perguntei com a mesma voz rouca do interrogatório.
- Você pode vê-lo uma última vez e...bem, uma última vez- ela disse com uma expressão triste no rosto. Não aguentei, desabei em um choro silencioso e fui até a sala em que ele estava deitado em uma maca.
- Posso ficar sozinha com ele?- eu perguntei olhando para Vivian, tentando fazer uma expressão muito mais triste para que pudesse ter um momento a sós. Ela assentiu e ficou me esperando do lado de fora da sala.
- Jorge...- eu disse chorando, peguei sua mão, fria como a neve- Eu te amo, nunca irei me esquecer de você- me debrucei sobre ele e o abracei. O último abraço. Último toque. Última palavra- Obrigada, por tudo.
Não sou nada boa com despedidas, até porque nunca me despedi de ninguém, agora sei como dói. Vivian abriu a porta fez um gesto com a mão pedindo que a seguisse.
- É o seguinte: se você quiser, podemos fazer um velório ou se preferir...- já sabia o que ela ia dizer. Preferia a segunda opção, menos dolorida e rápida. Eu não ia querer vê-lo sendo cremado, simplesmente pedi para que me mandassem as cinzas- Mas, infelizmente não temos dinheiro para bancar isso. Teremos de ver como está a conta bancária dele e assim que for tirada as digitais, iremos passar a herança para você, se ele deixou mesmo para você no documentos, e definir como será realizado esse processo. Daqui uma semana os resultados irão sair.
Vivian me levou em casa junto de outro policial e pediu para que empacotasse tudo que fosse usar para levar a um abrigo, pois ficaria alguns dias lá. Até decidir o que seria feito comigo. Até poderia comprar um apartamento mais para frente se a herança fosse deixada comigo, se Adelle não tivesse sabotado alguma coisa em relação as digitais para me fazer parecer culpada.
Praticamente tudo depende das digitais.
E tenho certeza de que são de Adelle.
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